Desligue o rádio
Em 1922, o centenário da Independência do Brasil ficou
marcado pela primeira transmissão de rádio no país, veiculando um discurso do
então presidente Epitácio Pessoa seguido da execução de O Guarani de Carlos
Gomes. Em 1938, Orson Welles transmitiu pela CBS Radio de Nova York uma
adaptação de “A Guerra dos Mundos” de H.G. Wells e deixou vários moradores da
cidade em pânico pensando se tratar de uma real invasão alienígena. Na Guerra
do Vietnã, soldados norte-americanos usavam o rádio para se distrair do cenário
perturbador que os cercava, como ilustra o filme “Bom Dia, Vietnã” de Barry
Levinson, com Robin Williams. Estes são
alguns casos que explicam o papel importantíssimo que o rádio teve e ainda tem
na vida das pessoas. É um companheiro fiel que informa e entretém durante o trânsito,
no trabalho, no jogo de futebol e nas compras, por exemplo. É aí que está o
problema. Não na sua simples existência, mas na insistência em seu uso na quarta
situação citada.
Eu S2 rádio
Antes de ser mal compreendido, confesso minha relação que posso chamar de amor
e amor com o rádio que teve início como ouvinte nos anos 1990, quando ouvia a
Jovem Pan esperando por uma do Michael Jackson e acabava descobrindo coisas
como o Inner Circle e mais tarde com a 96 Rock, que me mostrou boas bandas
locais como o Resist Control entre um Raimundos e um Metallica.
Profissionalmente, esta relação se desenvolveu quando entrei na Lumen FM em
2009 e conheci o ambiente (sem demagogia) mágico de um estúdio radiofônico.
Hoje estou na E Paraná 97.1 FM e a relação entre eu e este meio só melhora a
cada novo projeto. Defesa feita, hora da definição: o rádio é um MEIO de
comunicação fantástico, mas não funciona como FERRAMENTA de marketing se usado com a finalidade de compor um ambiente que ofereça uma experiência de compra satisfatória ao cliente.
“Essa rádio é a cara da minha empresa!”
“Essa rádio é a cara da minha empresa!”
Não.
Muda a empresa, muda o local, muda o ramo de negócios, mas
certos hábitos não mudam. É muito fácil encontrar em estabelecimentos que lidam
direto com o seu público final um aparelho de rádio transmitindo ininterruptamente
a programação de uma certa estação a todos os ambientes. Às vezes é possível e
provável ouvir com todas as letras que tal estação “é a cara da minha empresa”.
Oi? Sua empresa faz propaganda de outras assim, de graça? Há cartazes e
displays de marcas que não tem a ver com o seu ramo de negócios espalhados pela
sua loja? Então por que usar o ambiente sonoro que é SEU para veicular o que é
DOS OUTROS? Isso sem falar no perigo iminente de veicular em alto e bom som um
anúncio da concorrência.
Os investimentos necessários para tornar um ambiente atrativo
para o cliente são incontáveis e sempre há a possibilidade de melhora. Tanto cuidado
com as instalações envolvendo desde projeto arquitetônico, disposição de móveis
e produtos, decoração, comunicação interna e até a limpeza do local, deve ser dedicado
também aos elementos que compõem seu ambiente sonoro. Por mais difícil que seja
de reconhecer, o uso do rádio em um estabelecimento comercial é sim um
improviso. Não é profissional.
Pela última vez, eu amo o rádio. Trabalho e vivo com o rádio,
em várias situações da minha vida. Sou apaixonado pela liberdade que ele permite ao imaginário, simplesmente pela ausência da imagem. Só que quando vou ao
seu estabelecimento, não quero saber da história que a sua estação preferida está
contando. Quero saber da sua história. Então por favor, dê uma folga ao rádio e
deixe que a sua empresa fale com a sua própria voz. Se quiser a gente ajuda.
por Victor Schroeder
por Victor Schroeder
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