Por um mundo com mais Foo Fighters
Uma das partes mais difíceis em se
trabalhar com música (sim, ao contrário do que o universo acredita, ouvir música
o dia inteiro às vezes é muito difícil) é conhecer a estrutura da indústria musical
e identificar cada parte da sua fundação. A partir do momento em que se decide
pesquisar e estudar sobre música, é inevitável que alguns ídolos sejam
desmascarados, desmitificados e tenham suas estátuas levadas ao chão num misto
de profunda decepção e revolta. Tudo bem, às vezes nem chega a ser tão
dramático. O problema é que quando se percebe como cada peça se posiciona em uma
rede muito bem montada de produção, divulgação, distribuição e consumo de
música, é triste pensar que aquela figura quase sobre-humana capaz de criar os
sons e as frases mais lindas que você já ouviu está muitas vezes subordinado.
Provavelmente a um milionário dono de gravadora que não entende e não dá o
mínimo valor à criação do seu cotratado. Entre os artistas do mainstream, são raros os casos dos que
conseguiram refletir sobre o papel que ocupam na sociedade como figuras
influentes e formadoras de opinião e ainda assim se manter em destaque. Isso
porque a indústria perde o interesse, pois não gosta muito de arriscar. Se
percebem que a direção está mudando muito, simplesmente rompem a corda e deixam
que o artista siga por conta própria, fazendo o possível para que caia no
esquecimento. Mas aí aparecem os Foo Fighters.
A banda anunciou há algum tempo um documentário sobre a gravação do disco Sonic Highways, que vai ao ar nos Estados Unidos dia 17 de outubro pela HBO. Exatamente, ainda não foi ao ar. Mas já disponibilizaram o trailer aí ao lado.
A ideia foi gravar o disco em oito estúdios
emblemáticos para a música norte-americana, em oito cidades diferentes. Enquanto
conta a história dos estúdios de gravação, conta também a história dos grandes
nomes que passaram por eles, prestando um tributo merecido a artistas com os
quais a indústria não foi muito generosa. Só para exemplificar, estamos falando
de Buddy Guy, Willie Nelson e Bad Brains entre vários outros. Isso tudo sem
falar no charme que as gravações recebem graças à paixão da banda pelos métodos
analógicos de gravação, já declarada no antecessor Wasting Light de 2010. Mas o grande presente nós ganhamos como
público é o registro, mesmo que parcial, de lugares e pessoas fundamentais para
o atual cenário artístico da música norte-americana e a homenagem e o
reconhecimento que estes recebem tão tardiamente. Você pode ter mais ou menos
simpatia pelo rock, pela música em geral feita nos Estados Unidos, ou mesmo pelo
próprio país em si, mas o que esta obra mostra é que mesmo uma nação que faz
tanta questão de demonstrar seu patriotismo às vezes esquece alguns dos seus
heróis. O legado disso é despertar o público para a importância de se conhecer
o passado para imaginar e moldar o futuro. Em tempos de informação instantânea,
saturada e descartável, em que as atenções acabam se voltando para estrelas que
ascendem e apagam cada vez mais rápido, é animador perceber que ainda há
aqueles preocupados em um trabalho consistente e relevante. Artistas no sentido
pleno da palavra, que ao mesmo tempo reconhecem quem veio antes e abrem as
portas para os que vêm depois.
Boa Xinão! Estou esperando pra ver também! Podia sair no cinema devolta!
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